Este espetáculo é fruto do projeto “Ações para não desaparecer” (selecionado pelo Edital ProAC nº 22/2024 – Produção e Temporada de Espetáculo de Teatro Inédito do Estado de São Paulo) que conta com 12 sessões do espetáculo “O desaparecimento de Luísa” contemplando diversos municípios do interior e litoral paulista, com recursos de acessibilidade em Libras e Audiodescrição, oferecendo também para a cidade de Campinas as Ações Formativas: 2 ensaios abertos seguidos de bate-papo entre a plateia e os artistas, e a Oficina ‘Metáfora Mulher – Técnicas de atuação e representação cênica de textos líricos numa perspectiva de gênero’ – ministrada por Graziele Garbuio e voltada para mulheres artistas da cidade de Campinas/SP, com cotas para PCD, mulheres trans e mulheres negras, atividades previstas para o primeiro trimestre de 2026.
Talvez num primeiro momento a palavra “gestual” possa levantar a ideia de um teatro que se vale de muitos recursos em gestos manuais, mímesis de ações com objetos delineados, jeito característico de determinada personagem etc. Mas, apesar destes elementos terem sua importância, o termo “gestual” aqui apresentado trata de algo mais global, que corresponde a um conceito importante criado por Bertolt Brecht: o chamado “gestus social”. Segundo ele: “o gesto social é o gesto que é significativo para a sociedade; que permite tirar conclusões que se apliquem às condições desta sociedade”
É uma busca por traduzir certas particularidades históricas através dos indivíduos e suas atitudes. Neste caso, o ‘Gesto’ não é um recurso, ou um elemento isolado ajustado na atuação de atores e atrizes. Trata-se de linguagem. Gesto enquanto criação de significados que particularizam a situação e o ser, ao mesmo tempo que remetem a algo maior e fora deles mesmos; de relevância para a sociedade e que só é possível se tornar inteligível através do contexto. Este contexto, por sua vez, precisa da fábula para sua instauração, sendo dela toda a primazia.
Buscamos com este trabalho caminhar em direção a tais princípios de criação, com todas as dificuldades inerentes, porém juntas e juntos pelo mesmo objetivo: contar “O desaparecimento de Luísa” através de uma fábula. Nos reunimos ao longo de seis meses em torno dos desafios da dramaturgia, da atuação e da encenação, no espírito coletivo e criativo imprescindível ao teatro. Esta é, de todas as coisas, a parte mais emocionante e significativa da jornada: crescer e aprender juntos. Muitos aprendizados, muitos risos, dores, angústias, alegrias e suor. Muito suor.
Graziele Garbuio
Na possibilidade de representar diversas personagens que, ao mesmo tempo, vivem e são a ação, a pergunta que me pairou durante todo este processo: como mapear os gestos, entender suas medidas? Como corporificar o tempo das coisas, da vida, no tempo da cena?
Do músculo, iniciamos o trabalho. Respirando, contraindo e relaxando, fomos abrindo os espaços, testando qualidades, manipulando energias e encontrando temperamentos. Treinando o olhar da atriz para que através dele uma figura e todo o seu universo existam; buscando a natureza do olhar que vê e nos faz ver o que imagina. Dessa forma, seguimos em cada quebra-cabeça de cena, imagem, gesto e ação da narrativa para criar uma realidade inventada, mas que não seja menos verdadeira por isso.
Uma jornada de descobertas. Olhar pro espaço vazio e desvendar qual o som que preenche, qual atmosfera que surge, como se diz através da música é sempre mistério.
Compreender o tempo. Os meses, o tempo curto, o pulso, o andamento, as marcas e relembrar que há sempre o tempo das coisas, sua soberania.
Desfrutar dos encontros. Na fricção das ideias, das linguagens, dos olhares, de um coletivo que se entrelaça e dá vida a algo potente: um solo bem acompanhado.
Sobre o processo: Iniciar os trabalhos com alegria e firmeza sem mesmo saber por onde ir… explorar com cuidado e atenção as potencialidades da atriz, idealizadora e gestora do projeto ( e que guerreira!!); o passo a passo lento e sempre a flor da pele que vai se definindo se revelando em sua forma poética para contar a história, até chegar no ponto de virar espetáculo!
Agora sim, pronto para ser transformado e ressignificado por outros tantos olhares.
Um grande prazer fazer parte de tão nobre equipe.
Não sei se consigo expressar em palavras a importância desta experiência para mim, pessoal e profissionalmente. Que jornada! Ousada? Sim. Difícil? Sim. E que bom que podemos ter ousadia e nos lançar para o risco. Só tenho mesmo um sentimento de profunda gratidão: por cada aprendizado (e foram vários, de toda ordem), por todas e todos que caminham comigo, por você que está aqui para nos prestigiar… pela vida, enfim. Imensamente grata.
Um convite, um bom encontro e o prazer.
Quando Grazi Garbuio me convidou para dirigir seu trabalho, aceitei de pronto porque conhecia um pouco da sua potência criativa e criadora e ela é tão obcecada pelos detalhes quanto eu, mas ponderei: não acho que você queira minha direção, você quer minha assistência, pra que juntas, no processo, eu possa te ajudar a realizar o que você já sabe que quer expressar, mas está tateando, ainda no escuro, como fazer isso. Sim, ela disse, sei bem o que desejo! Então falei: serei a assistente desta direção. E quem dirige? Perguntou ela. Você mesma, disse eu, mas quando a atriz estiver em cena, emprestarei meus olhos, minha experiência e meu coração, para você realizar a sua melhor arte! E assim tem sido: um imenso prazer!
Para falar de Luisa, precisei prestar-me ao silêncio das que nada sabem.
Emudeci os carros na rua, para ouvir Luísa
Gritei seu nome por vales e cantos e do alto dos prédios
Tomei banhos longos de mato para sentir seus cheiros
Bebi cerveja
Fumei cigarro
Vi a noite passar nos olhos das mulheres que riam e choravam comigo.
Enfiei-me no absoluto breu
Coei cafés
Abanei-me
Os dias sem Luisa derretem as paredes
Súbito, no canto da coxia, um sussuro:
Estou aqui!
Corri, atravessei cadeiras e palco
Tomei fôlego
e
que espanto é a arte, que espanto.
Livremente inspirado no poema “Desaparecimento de Luísa Porto” de Carlos Drummond de Andrade, a trama narra episódios que envolvem a vida de Luísa, sua mãe Maria e sua melhor amiga Rita. Numa manhã que poderia ser como outra qualquer, um acontecimento inesperado mergulha a vida destas mulheres em profundo mistério.
Concepção, Direção e Atuação:
Graziele Garbuio
Texto:
Gabriela Guinatti
Trilha Sonora e Composição:
Felipe Macedo
Assistência em Direção Cênica:
Tiche Vianna
Direção Musical e Preparação Vocal:
Marcelo Onofri
Preparação Corporal:
Ana Carolina Salomão
Iluminação:
Eduardo Albergaria
Figurino e Caracterização:
Graziele Garbuio
Design Gráfico:
Renan Villela
Fotografia:
Mauro Machado – Estúdio Câmera 55
Filmagem:
Nina Pires
Produção Audiovisual:
Samuel Garbuio
Web Design e Marketing Digital:
Kaue Teixeira
Assessoria Administrativa:
Wannyse Zivko – Arte & Efeito
Coordenação Geral:
Graziele Garbuio
Fomento:
PROAC – Programa de Ação Cultural do Estado de São Paulo
Realização:
Cult SP/ PNAB – Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura
Classificação indicativa:
16 anos
Duração:
60 min